sexta-feira, 11 de junho de 2010

A consulta - I

Andei duas semanas a digeri-la.

Cheguei a escrever um texto com mil e muitas palavras, mas resolvi não publicar (ainda pode vir a ser-me útil). Dos vinte e sete parágrafos deixo aqui o resumo, agora que o desapontamento não faz já qualquer sentido e que um passo mais foi dado na direcção do almejado.

A tão ansiada consulta, a que me fez poupar de bom grado os meus parcos euritos pela promessa que encerrava de me trazer momentos tão reconfortantes, a que tinha tudo para ser um dos melhores momentos da minha pré-gravidez, agora que tudo tem andado tão certinho, tão harmonioso, tão sudável, tão sereno, tão amoroso... foi uma desilusão.

Cheguei a horas, percebi, pelo que vi, que bem poderia ter ido com mais calma, sacudi o nervoso que trazia e pensei: “Deixa-te mas é invadir pelo calor reconfortante que aqui sempre se faz sentir e abandona essa tensão que em nada se justifica num local cheio de boas energias como este é invariavelmente”.

Sentei-me na cadeira mais próxima da pequena mesa onde costumo encontrar a interessante (e pouco comum em salas destas) leitura que me faz companhia na espera. Mas...? Revistas? Então e os livros? Já estava a olhar para o sofá a imaginar quão mais agradável seria relaxar ali sob o sol matinal que entrava pela generosa área envidraçada de onde se pode avistar o verde sempre cuidado que nos cerca quando (nem queria acreditar) lá encontrei um. Serviu.

Momentos depois dirigia-me à sala de consulta, já mais confiante. Estava entusiasmada. Ia (ou assim o esperava) dar um pouquinho mais de mim, conhecer-me um pouco mais, dar mais um passo em frente na conquista dos meus sonhos e no vencer dos meus bloqueios. O nervoso miudinho com que chegara era agora prazeroso e a expectativa era tão alta que tornou a minha decepção maior e mais difícil de encarar.
As marcações são feitas com intervalos de uma hora para que não hajam pressas, para que todos os pontos sejam abordados, para que a calma reine e a verdade impere, para que a mulher se sinta ouvida, apreciada e valorizada enquanto ser espiritual e afectivo e sensível, mais do que apenas uma entidade corpórea definida por termos técnicos e observada com a artificialidade maquinal dos aparelhos de uma qualquer sala de exame.

Mas esta foi, ao contrário das anteriores, uma visita de médico. Foram dez minutos de respostas rápidas a questionário acelerado, outros tantos de citologia (que a ecografia e a colposcopia eram ainda recentes) na sala ao lado e, quando eu pensava que o regresso à secretária me traria algo diferente... Mais conversa de médico. Das breves. Daquelas a correr, porque não há tempo (porque o que havia - e que era meu - se dissipara não se percebera bem como).

Descobri-lhe receios pela primeira vez. Questionou a necessidade do depakine*, dissuadiu-me de contratar uma doula (o que não me surpreendeu completamente), justificou a sua posição e deixou-me a pensar numa série de coisas com que ainda não me tinha visto confrontada. Com isto esqueci-me de lhe pedir prescrição para o ácido fólico que era escusado andar a comprá-lo sem comparticipação. E falhou-me mais uma (desta vez não levava cábula). Dispôs-se a esclarecer mais dúvidas mas a sua expressão e a sua postura pressionavam-me a apressar-me de tal forma que não consegui lembrar-me de muito mais. 

Despediu-se apressada e recomendou-me nova consulta às oito ou nove semanas de gravidez (ainda inexistente).
Paguei, saí desconsolada e sem reacção.
Depois percebi.

Está nas minhas mãos.

Não é ela que me vai dar (de bandeja) o que quero. Pode assistir-me no percurso, mas a luta é minha, as decisões são minhas, o crescimento é meu e a conquista será minha. Não é ela que tem que me dar força. Sou eu que preciso de encontrá-la em mim.

Vivendo e aprendendo.

E crescendo. Sempre.

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